About us  Clients  Candidates  Digital Solutions  Contact us


   Home
   Envie seu currículo /  Resume
   Cargos em aberto / Jobs
   Dicas / Counseling
   Artigos / Articles
   Mapa do Site / Site map
   Pesquisa / Search



Av.  Alfredo Egídio de Souza Aranha,  nº 75 - 1º Andar
CEP 04726-170
Chácara Santo Antônio
Fone: 55 11 5641-2255



Planeje sua carreira
Organize-se para buscar um novo desafio



Anúncio de emprego
Entender uma oferta de emprego é essencial.




   
 
























Aprender ou se distrair

Fonte: Jornal "O Estado de São Paulo"
Por Cleber Aquino


Dramaturgia e aparências endeusadas;
Daí o êxito desses programas.

O empresariado tem participado, intensamente, nos últimos anos, de seminários, cursos, sobre as comentadas novidades em administração pagando altas taxas de inscrição e obtendo resultados questionáveis, do ponto de vista de aprendizagem. A quem interessa essas lucrativas promoções e por que o empresário participa delas?

O homem de negócios é sagaz, inteligente, daí a razão dele criar, desenvolver e administrar empresas. No entanto, é ingênuo, fácil de ser manipulado diante de assuntos de management, ramo novo no Brasil.

Além de ingênuo nesses assuntos, ele está inseguro com o avanço da competição (para qual ele não se preparou) nesta etapa de globalização e mundialização da atividade empresarial, agarrando-se a toda tábua de salvação. Assim corriqueiro ele ser vítima de ciladas em determinados seminários, cursos etc., inclusive no âmbito acadêmico, que acenam com soluções salvadoras para o seu negócio.

Basta um bom marketing, proporcionando shows para contar com a adesão de numerosas platéias. A encenação começa com os títulos em inglês e sobre modismos, propondo questões palpitantes e soluções aos problemas da empresa.

Empresários, executivos ficam na expectativa de conhecer os últimos pacotes e, ao término do encontro, as prometidas inovações (geralmente repetições do passado com outras roupagens), quando muito, são relatadas superficialmente, mesmo porque a carga horária de seis a oito horas, incluindo almoço, coffee break, não permite um aprofundamento da temática.

A teatralização continua com os provocativos módulos do programa e o perfil dos gurus, nomes carismáticos construídos via a publicidade e possuidores de pomposos títulos, raramente comprovados, mesmo existindo entre eles profissionais de indiscutível valor. Esse apelo é fortíssimo, porque a elite empresarial adora as coisas de fora (santo de casa não opera milagres), resquício da colonização européia, idolatrando o estrangeiro em detrimento aos valores nacionais.

Todo esse envolvimento requer uma logística, mediante a qual, a clientela - sempre em busca de fórmulas de última hora, para compensar suas incompetências de gestão - é metralhada por mensagens e muita `outrinação. Como parte do empresariado vive esmagada no cotidiano de suas organizações, tem deficiências educacionais e culturais, não avalia, maduramente, as aludidas promoções.

Além dos refinados folhetos, inflacionados de atrativos, são divulgadas entrevistas do "Deus" (ou guru, dá no esmo), visando seduzir o maior número possível de inscrições. Essa dramaturgia se baseia em outras características da cultura brasileira: avalia-se o comportamento em detrimento ao desempenho, a dramaturgia e as aparências são endeusadas, daí um dos fatores do êxito desses programas.

Feita a inscrição, chega o dia do tão acalentado seminário e de se conhecer o festejado guru, mesmo sem nunca ter vindo ao Brasil, porém, reverenciado pela expectativa de dar respostas ou brilhantes idéias as deficiências da empresa, quando a remoção dessas lacunas não pode ficar dissociada da cultura local e depende de decisões políticas e estratégicas dos acionistas. O primeiro dia é uma festa. Os inscritos recebem pastas pomposas e, na recepção, arma-se um clima envolvente, muita confraternização, alegria e contatos. Começa a conferência, oportunidade de se aprender as prometidas novidades e se deparar ao vivo (alguns empresários se emocionam), com o gênio da administração, introduzido no auditório, como se fosse o lançamento de um produto.

Dispara sua verbalização, platéia embevecida fazendo anotações, usualmente desprezadas no dia seguinte. Vem o almoço - outra festa - e a tarde o guru, com platéia sonolenta, conclui sua exposição num período insuficiente, tendo em vista a abordagem dos numerosos tópicos do conteúdo. Essa superficialidade não esquenta a cabeça de ninguém, outra razão do sucesso financeiro desses eventos.

Terminado o show, são entregues certificados assinados pelo guru e endossados por universidades famosas (dá status), os concludentes regressam as suas empresas felizes, porém, com pouco aproveitamento, visto que a pedagogia utilizada não foi estruturada para esta finalidade. Aprender exige um enorme esforço pessoal. Se a meta do empresário e executivo é aprender, um caminho seria utilizar a taxa de inscrição na compra de livros, inclusive os do guru (os temas de seminário são os mesmos dos livros), ler, estudá-los e ainda economizando tempo, formando a biblioteca da organização, E tomar decisões na remoção dos entraves organizacionais e no direcionamento estratégico do empreendimento.

Como estas alternativas não são seguidas, afinal, quais as intenções dos empresários e executivos nesses seminários e cursos? A resposta está com eles, porque quanto à lucratividade dos encontros, certamente, o leitor já tirou suas conclusões.

Cleber Aquino é professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) USP e coordenador de História Empresarial Vivida.


<< página anterior próximo artigo >>