Canção
do Tamoio (Ode
ao executivo?)
Não chores, meu filho; Não chores,
que a vida
É luta renhida: Viver é lutar.
A vida é Combate, que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos, só pode exaltar.
Um
dia vivemos!
O homem que é forte, não teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa, tem certa uma presa,
Que seja tapuia, condor ou tapir.
O
forte, o covarde, seus feitos inveja
De o ver na peleja, garboso e feroz;
E os tímidos velhos, nos graves conselhos,
Curvadas as frontes, escutam-lhe a voz!
Domina,
se vive; Se morre, descansa
Dos seus na lembrança, na voz do povir.
Não cures da vida! Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte, que a morte há de vir!
E
pois que és meu filho, meus brios reveste;
Tamoio nascente, valente serás
Sê duro guerreiro, robusto fragueiro
Brasão dos tamoio na guerra na paz.
Teu grito de guerra, retumbe
aos ouvidos
D'imigos transidos por vil comoção;
E treman d' ouvi-lo, pior que o sibilo
Das setas ligeiras, pior que o trovão
E a mão nessas tabas,
querendo calados
Os filhos criados na lei do terror;
Teu nome lhes diga, que a gente inimiga
Talvez não escute, sem pranto, sem dor!
Porém se a fortuna,
traindo seus passos,
Te arroja nos laços do inmigo falaz!
Na última hora teus feitos memora,
Tranquilo nos gestos, impávido, audaz.
E cai como o tronco, do raio
tocado,
Pratido, rojado por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte, triunfa, conquista
Mais alto brasão
As armas ensaia, penetra na
vida:
Pesada ou querida, viver é lutar.
Se o duro combate os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos,
Só pode exaltar.
Gonçalves Dias
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