O
NOVO EXECUTIVO
Barnevik, ex- CEO da ABB, é o mais sério e intelectual dos reformadores
de empresas, segundo o autor do Homem da Companhia. Em uma longa
conversa em Zurique, ele deu suas respostas para questões e
temas como: multinacionais, computadores, autocratas e, sobretudo,
o novo executivo.
1. O downsizing deixa todos inseguros
?
Trata-se de um problema humano sério. Essa "reviravolta do desemprego"
faz parte de uma tendência maior, não é apenas uma questão de
ciclo econômico, como a perda de empregos na agricultura de
um século atrás, quando eles diminuíram de 50% para 5% da população
ativa.
A redução do emprego no setor industrial não deveria ser uma
ameaça. Para enxugar, efetivamente você tem de ter empatia com
as pessoas que estão perdendo o emprego. Você tem de pagar,
agir com calma, tratá-las com honestidade e respeito. O que
você diz para elas tem muito a ver com a atitude dos sobreviventes:
se eles vêem a empresa como uma máquina de fazer dinheiro ou
mantêm o respeito e a confiança nela.
2. Qual é a quantidade de mudanças que
um executivo consegue suportar ?
Estive lendo recentemente sobre quanto tempo os genes e as mutações
humanas demoram para se desenvolver. Não podemos nos adaptar
subitamente às máquinas: elas é que devem se adaptar a nós.
Não posso esquecer que há um limite para a velocidade. Descobrimos
que nossas empresas com pior desempenho eram aquelas em que
os gerentes não davam tempo às pessoas para se comprometer com
as mudanças - para torná-las "coisas delas". Se você gasta tempo
persuadindo as pessoas face a face em vez de dar ordens, acaba
economizando tempo.
Os engenheiros podem achar muito difícil mudar. De início, eu
não podia entender como podiam ficar tão apaixonados pelos sistemas
que desenvolviam: como as máquinas faziam parte de suas vidas
humanas ou mesmo do orgulho nacional.
O ritmo da mudança é o maior problema na Europa Continental,
acostumada a estabilidade. Depois que uma fábrica cortou custos
e aumentou a produção, eu ainda quero mais. Os alemães me perguntam:
"Você já não fez o suficiente? Isso não é problema mental seu,
que nunca está contente?". Mas se parar, você está numa escada
rolante que desce.
3. As mudanças não concentram poder demais no topo?
Os analistas sempre me perguntam isso, porque supõem que o preço
das ações cairia substancialmente se eu desaparecesse. Depois
da fusão , muito dependia de mim, já que alguém tinha de decidir.
Mas, agora, a idéia de mudança contínua está tomando conta.
Há um alto comitê executivo de oito membros que sabem de tudo
o que está acontecendo Temos um forte conselho supervisor que
não é composto apenas de coletores de remuneração e que não
tem medo de discordar. É uma vantagem ter um presidente não
executivo, que é diferente do diretor-presidente. Politicamente,
a Suíça evitou os líderes fortes desde Napoleão, e por isso
tem um Presidente diferente a cada ano.
4. As mudanças podem ser efetuadas sem
computadores?
Sem a moderna tecnologia da informação, a ABB não poderia existir.
Os computadores transformaram nossa empresa tanto quanto qualquer
das companhias IT como a ATT e a IBM. Eles transformaram não
apenas nossa administração, mas o próprio processo de engenharia.
Tive sorte porque fiz meu primeiro programa quando tinha dezoito
anos e depois estudei computação em Stanford; mas muitos gerentes
têm dificuldade em entender os computadores. Divido-os em AC
e DC: antes ou depois dos computadores - o que significa geralmente
quem tem menos de 35 anos. Somente cerca da metade de nossos
gerentes são AC - e menos entre os seniores - então temos de
tentar converter AC em DC. Mas devemos a todo custo evitar de
nos tornarmos mecanicistas em nossas atitudes. Os erros mais
graves que cometo não são financeiros: são relacionados com
o julgamento de seres humanos. Os computadores podem ser uma
ferramenta para a descentralização e distribuição de poder:
dando microcomputadores para os trabalhadores você pode reforçar
o fator humano. Mas os computadores podem se facilmente usados
para o oposto, para a centralização.
5. A burocracia pode ser eliminada ?
A centralização está sempre escondida do outro lado da esquina.
E se demora para romper um sistema centralizado. Quando compramos
parte da Westinghouse, em Pittsburgh, que tinha uma matriz com
vários milhares de pessoas na época, tive uma espécie de crença
religiosa, como a democracia. Mas acho que o que estamos fazendo
é irreversível: revelamos o segredo. Eu não poderia revertê-lo
se quisesse: é como a velha guarda da China, se tentasse reverter
a livre empresa que está florescendo lá.
6. A ABB está produzindo um novo executivo
?
Temos dois tipos diferentes de gerente: A maioria deles trabalha
em unidades de negócios pequenas, como se estivessem em pequenas
empresas familiares, orgulhosos de seu país. Precisam de uma
carta patente para saber o que estão fazendo; precisam de seu
próprio interesse pessoal, como disse Adam Smith. Não se pode
dizer a um escocês que se abstenha de fazer algo para que os
alemães possam fazê-lo. Mas temos cerca de quinhentas pessoas
que precisam ver o quadro inteiro. Precisam ser capazes de falar
com as pessoas nas fábricas, mas também proporcionar um guarda-chuva
global e precisam ter a integridade de não favorecer seus próprios
países. Estas pessoas são raras, e valem seu peso em ouro.
Fonte: Do Livro O Homem da Companhia
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